As Sefirot
“E D’us disse: Façamos o homem com nossa
imagem e semelhança” (Gênesis 1:26)
Está escrito no Livro Gênesis que D’us
criou o ser humano em Sua imagem. De acordo com Maimônides, a humanidade é
semelhante a D’us, pois recebeu qualidades divinas, a saber; moral, raciocínio e a capacidade de livre
escolha. A este respeito, o ser humano se assemelha a D’us espiritualmente e
não no aspecto ou configuração material. Maimônides explica que temos que
tentar emular a D’us, copiando Seus atributos. Assim como D’us é
misericordioso, devemos ser misericordiosos. Da mesma maneira, assim como D’us
é sagrado, igualmente devemos ser sagrados.[1]
Isto
posto, através do estudo da cabalá, aprendemos a emular a D’us através de Suas
qualidades manifestadas nas sefirot. Neste sentido, a terminologia sefirá
pode ser traduzida como emanação, característica, qualidade ou faculdade
divina. Cada ser humano tem dentro de si uma reflexão destas sefirot. Ao trabalhar e aperfeiçoar
nossas próprias sefirot (também
chamadas de midot), podemos melhor
emular e nos relacionar com o Criador. Portanto, esta é uma das razões pelas
quais é tão importante conhecer o significado cabalístico das sefirot.
Uma
maneira de compreender o significado das sefirot é através do
entendimento do que são os “Sete Pastores” que visitam o Povo Judeu durante a festividade de Sucot.
O Zohar explica que estes homens
justos são “recebidos” espiritualmente na Sucá anualmente. A propósito, esta é uma das experiências mais
especiais de Sucot.
O
Povo de Israel tem três patriarcas: Abrahão, Isaac e Jacob.
Na primeira noite de Sucot quem honrosamente visita na Sucá o
Povo Judeu é Abrahão. Nosso pai e patriarca tem como característica
preponderante, entre outras, a bondade, fazer bem ao próximo, ou seja, chesed.
Consta na obra cabalística Sefer
HaBahir que a sefirá inclusive "reclamou"
com D’us de sua falta de função durante a vida de nosso patriarca![2]
Abrahão era extremamente hospitaleiro, sempre recebendo hóspedes em sua casa de
forma excepcional – inclusive pessoas completamente idólatras. Outrossim, Abrahão
foi à guerra para salvar seu sobrinho Lot, mesmo ciente de seus defeitos, o que
demonstra como nosso patriarca tinha exacerbada a sefirá de chesed.
Por sua vez, a sefirá guevurá representa força,
disciplina, controle e sacrifício pessoal. Quem visita a Sucá
na segunda noite é o segundo patriarca, Isaac. O Pirkê Avot diz que forte, com guevurá, é aquele que domina sua tendência física.
Esta sefirá está conectada com Isaac, que se controlou o suficiente para
permitir que Abrahão o levasse a sacrifício. Guevurá representa a capacidade de se refrear e não
dar ou ceder quando a pessoa não tem merecimento. Um exemplo disto ocorreu
quando Isaac não deu bençãos extras
a seu filho Esaú.
Seguindo esta
cronologia, é fácil advinhar quem vem para jantar na Sucá na terceira
noite: Jacob. Nosso patricarca pode ser visualizado pela sefirá tiferet,
resultante do equilíbrio entre chesed e guevurá. Jacob, que
depois teve seu nome mudado para Israel, representa harmonia. Apesar de começar
sua vida mais ligado a chesed (sendo o preferido de sua mãe, a matriarca
Rebeca, ela mesma representativa da sefirá
chesed), Jacob encarou
extremos desafios com tremenda coragem e disciplina.,Trabalhou para Labão,
enfrentou um anjo e Esaú. A sefirá de tiferet é também conhecida
como rachamim, misericórdia.
Após a presença dos três patriarcas, na quarta noite de Sucot,
o Povo de Israel recebe em sua Sucá um novo convidado: Moisés. Este
grande líder espiritual tem por maiores características a humildade,
perseverança, redenção e vitória, atributos simbolizados pela sefirá netzach.
Através de Moisés, o homem mais humilde da Terra, D’us redimiu o Povo Judeu do
Egito e entregou a Torá.
Durante a quinta noite de Sucot, Aarão, o irmão de Moisés,
visita a Sucá. Nesta noite a sefirá hod é o elemento divino
refletido no indivíduo. Hod pode ser entendida por gratidão,
reconhecimento, glória, mas também por serviço devoto e nulificação. Aarão, o primeiro Sumo Sacerdote, servia e glorificava a D’us com
gratidão e com todo o seu ser, se nulificando totalmente diante de D’us. Aarão também
servia o Povo de Israel, sempre buscando harmonia e paz àqueles ao seu redor.
Prosseguindo, na sexta noite recebe-se José na Sucá, ele
que está ligado a sefirá yesod, que significa fundação, firmeza e
retidão. José manteve-se firme perante a sedução da mulher de Potifar, mantendo
sua base judaica, mesmo após muitos anos sozinho e isolado no Egito. Cabe
ressaltar que de todos os Sete Pastores, José é conhecido como HaTzadik, o Justo. O tzadik representa a fundação do mundo, a
fonte de sua sustentação espiritual e material, como foi José.
Finalmente, na última noite da festividade de Sucot, o Povo
Judeu recebe na Sucá a visita do Rei David, ligado preponderantemente a sefirá
malchut. Esta sefirá pode ser traduzida por reinado, pois
representa a capacidade de ação no mundo material. Malchut engloba as
qualidades de todas as outras sefirot
e as coloca em prática. O Rei David representa bem esta sefirá, pois seu reinado, e o de seu filho Salomão, são o maior
exemplo da manifestação do reino de D’us neste mundo. O Rei David instituiu a
leitura de seus Salmos e nos ensinou do poder ligado ao ato de teshuvá (arrependimento e retorno a D’us).
Ademais, malchut é a única sefirá emocional tida como feminina. Além
do Rei David, malchut muitas vezes é
simbolizada pela matriarca Rachel.
Durante
a contagem do ômer, as três sefirot
que refletem a capacidade da mente, chochmá, biná e da'at (ou keter), a saber, sabedoria, conhecimento e
compreensão, não são trabalhadas. Isto porque no dia de Pessach, D’us já presenteou o Povo de
Israel com estes atributos. Então, já dotado
destas qualidades, o indivíduo passa a trabalhar seu lado emocional. Depois de terminado
esse trabalho, como recompensa, em Shavuot, recebemos um nivel ainda mais elevado das sefirot
intelectuais.
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