Weekly Cycle



Wednesday, December 30, 2009

Capa, Contracapa, Agradecimento, e Dedicatória


A Cabalá do Tempo: Revelação da Luz Oculta através do Calendário Judaico


Ann Helen Wainer e Rabino Daniel Kahane



Contracapa

Ensina o Rabino Schneur Zalman de Liadi, o Alter Rebbe de Lubavitch, que é preciso “viver com o tempo”, vivenciando os ensinamentos da Torá associados a cada semana do ano. Tal qual o zodíaco, onde todo mês tem sua própria simbologia, as semanas do calendário judaico também têm significados únicos.
O calendário é a chave-mestra para desvendar a razão da estrutura formal de textos antigos sagrados, assim como para entender conceitos místicos fundamentais. Quando compreendidos dentro do contexto do calendário judaico, os livros revelam a energia espiritual de cada semana, servindo de guia prático para auto-análise e aprimoramento durante o ano.  
Nesta jornada anual, aprenderemos a viver com mais harmonia, felicidade e gratidão através da cabalá, das lições éticas milenares do Povo de Israel, e até mesmo dos animais. O objetivo é fazer com que o leitor se conecte com a força da semana, alcançando uma conduta diária mais positiva e reencontrando a canção universal dentro de cada um: a canção da alma.


Este livro contém termos sagrados. Favor tratá-lo com respeito.


Agradecimento e Dedicatória

Em primeiro lugar, louvamos e agradecemos a D’us pelo privilégio de disseminar Sua sabedoria. Somos muito gratos por poder ver os frutos deste trabalho, que na verdade é de toda vida, sempre guiados por Ele.

Aos nossos pais Michael Abraham Z”L e Iliana Cooper, Allan Kahane e Sandra Felzenszwalbe. Agradecemos também ao marido e sogro, Raul Wainer e à filha e mulher, Danielle Kahane, por todo o apoio durante esta jornada.

Ao Rebbe e seus emissários, e todo o movimento Chabad-Lubavitch. Sempre temos em mente a benção com o dólar que a Ann Helen recebeu do Rebbe “for writing books,” escrever livros. Somos gratos pelo grande carinho que sempre recebemos de tantos rabinos e rebbetzins, sejam do Rio de Janeiro, Miami, Sudbury, e de tantos outros lugares do mundo. Queriamos também agradecer ao Rabino Pinchas Ellovitch por suas palavras de encorajamento e força.
Ao Instituto Filantrópico Vicky e Joseph Safra, que permitiu com que este nosso sonho virasse realidade. Que eles e suas gerações sejam muito abençoados sempre, e que possam continuar este lindo trabalho de preservar a herança judaica através da Revista Morashá e tantos outros meios.  Nas eternas palavras do Birchat Kohanim, a bênção sacerdotal: “Que o Eterno te abençoe e te guarde; que o Eterno faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; que o Eterno sobre ti levante o rosto e te dê a paz.”

Em último lugar, agradecemos também ao leitor. Como mencionado na introdução, a vida de hoje é tão atribulada, que é difícil achar momentos para ler um livro. É uma honra o tempo e confiança depositados, participando conosco nesta bela jornada. Ficamos ao inteiro dispor para qualquer esclarecimento e para dar continuidade a esse relacionamento. Nosso email é: cabaladotempo@gmail.com.

O livro é dedicado aos nossos ancestrais, irmãos, e aos filhos e netos: David Wainer, Danielle, Jacob, Olivia, Benjamin Kahane e todos futuros descendentes. Que D’us os proteja, e que sigam sempre Seus caminhos, conectados com a Torá, o Povo e a Terra de Israel, com muita saúde, felicidade e paz.

                                                                                    Ann Helen Wainer e Rabino Daniel Kahane
                                                                        28 de Sivan, 5772, semana do dia 3 de Tamuz


Sunday, December 27, 2009

INTRODUÇÃO


A Cabalá do Tempo: Revelação da Luz Oculta através do Calendário Judaico

INTRODUÇÃO

“Para tudo existe uma época determinada, e para cada propósito há um tempo sob os céus” (Eclesiastes 3:1)

Grande parte de nossas vidas transcorre em plena escuridão espiritual. Muitas vezes caminhamos indecisos, por falta de orientação sábia. Seguimos em frente, apegados a valores que confundem mente e coração, ignorando os verdadeiros desejos e necessidades da alma.
Tão atarefados com os afazeres diários, acabamos distraídos por uma avalanche de informações supérfluas, fora de sintonia com os sinais à volta – as lições e avisos que Ele apresenta a cada instante. Contudo, determinados momentos podem nos despertar desta escuridão. Nessas horas - relâmpagos de clareza-, percebemos que existe algo maior, além do plano físico e preocupações mundanas.
A verdade é que a alma precisa cantar! Entretanto, como fazer se são desconhecidas a letra e a  melodia da canção? O Ba’al Shem Tov explica que esta é a mensagem do toque do shofar em Rosh Hashaná. O shofar é a expressão mais elementar da alma, e é com este “grito” que o Povo Judeu desperta a cada ano.
Isto posto, este livro tem por objetivo nos aproximar do nosso “canto”. O canto da alma, do indivíduo, do Povo de Israel, da humanidade e da natureza.[1] Cada uma destas canções é direcionada a D’us, e o calendário judaico serve de pauta e partitura.
Visando uma vida mais harmoniosa, estudaremos valores e técnicas judaicas para aprimoramento espiritual, sintonizados com a energia de cada semana do ano. Estas lições promoverão uma transformação positiva, propiciando um canal de  diálogo com D’us. Mostraremos como acessar ferramentas “secretas” existentes na Torá para uso ao longo do calendário judaico. Estas lições sagradas estão ao alcance de todos, perto da boca e coração.[2]  
Acreditamos que mediante um constante esforço, o indivíduo pode promover mudanças no núcleo familiar, comunitário, e assim, sucessivamente. Afinal, conforme prega Isaías,” a Terra não foi criada para ser um caos.”[3] Precisamos sim, e desesperadamente, viver em um mundo melhor, e deixá-lo mais pacífico para as futuras gerações.
Ensina o Rabino Schneur Zalman de Liadi, o Alter Rebbe de Lubavitch, que é preciso “viver com o tempo”.[4] Este livro tem como elemento básico associar lições judaicas ao tempo físico. Serve de auto-análise e desenvolvimento espiritual a partir das canções de cada animal no Perek Shirá, dos preceitos de cada rabino do Pirkê Avot, e sefirá (emanação divina) de cada dia da contagem do ômer.
A contagem do ômer sempre foi usada pelo Povo Judeu como base de aprimoramento espiritual. A contagem começa em Pessach e segue até Shavuot. Ao sair do Egito, o Povo de Israel estava no 49º nível de impureza. Durante os quarenta e nove dias da contagem do ômer, gradativamente o povo se purificou, revertendo este cenário para  atingir o 49º nível de pureza! Sete semanas depois, ao chegar no Monte Sinai, estavam tão refinados espiritual e emocionalmente, que ali acamparam em harmonia e paz, com união total: “como uma só pessoa, com único coração”.[5] Só assim o Povo Judeu foi merecedor e pôde ser presenteado com a Torá.
Da mesma forma, durante a contagem do ômer feita a cada ano, é possível obter semelhante aperfeiçoamento e cura espiritual. Este aprimoramento pode ser feito através da concentração diária nas sefirot. Cada dia da contagem é representado pela combinação de duas sefirot. A contagem do ômer ocorre quase toda dentro do mês de Iyar, que está ligado à cura. O nome deste  mês é o acrônimo do verso em hebraico “Eu sou D’us Seu Curador”.[6]
Abrindo parênteses, além de ser uma época de elevação e cura, lamentavelmente o ômer marca uma era triste na história do Povo de Israel. Em decorrência de uma praga, faleceram vinte e quatro mil alunos do Rabi Akiva durante esses dias. O Talmud explica que esta praga ocorreu pela falta de respeito mútuo entre os discípulos. A praga terminou no 33º dia do ômer, Lag Ba'Ômer, e este é um dos motivos pelos quais essa data é tão celebrada. Outrossim,  a principal razão pela qual se comemora Lag Ba’Ômer é atribuída ao yahrzeit – aniversário de falecimento – do grande tzadik Rabi Shimon Bar Yochai, muitos anos depois. Rabi Shimon Bar Yochai é o autor do celebrado Livro Zohar, o texto básico da cabalá.
Impressionante notar, tal qual a festividade de Lag Ba'Ômer ocorre no dia trinta e três do ômer, representando aproximadamente dois terços da contagem, o mesmo ocorre com a semana de Lag Ba’Ômer. Esta semana é a trigésima terceira, aproximadamente dois terços do ano. Em consequência, cada semana do ano está conectada por uma variação das sefirot, procedimento semelhante ao adotado durante a contagem de cada dia do ômer. Semanalmente, a partir das sefirot, mostrar-se-á como uma pessoa pode se aprimorar e se engajar no processo de cura.
Entre Pessach e Shavuot, na maioria das comunidades judaicas existe o costume de estudar o Pirkê Avot como mecanismo de autoaperfeiçoamento. Pirkê Avot, que significa Capítulos dos Patriarcas, é parte da Mishná (Torá oral), compilada por Rabi Yehudá HaNassi. Nesses capítulos, cada sábio da geração escreve o que considera mais importante para se viver éticamente com a Torá. Pirkê Avot também pode ser entendido como “Capítulos dos Pais”, pois nele estão incluídos os princípios fundamentais para o estudo e cumprimento da Torá. Neste sentido, as lições do Pirkê Avot são como "pais", e o restante da Torá são “os filhos”.[7] 
Este livro mostrará como os pronunciamentos dos rabinos constantes nos primeiros quatro capítulos do Pirkê Avot estão organizados, de tal forma que, cada rabino corresponde a uma semana do ano. Igualmente, se revelará como este trabalho semanal de auto-aprimoramento está relacionado com cada animal do Livro Perek Shirá.
O Perek Shirá que significa Capítulo da Canção, é um texto pouco conhecido. Foi publicado em apenas alguns livros de prece no mundo. A autoria do Perek Shirá é comumente atribuida ao Rei David, que o escreveu após ter concluído o Livro dos Salmos.
Dentre outros livros sagrados do judaísmo, o Perek Shirá é pioneiro em matéria ambiental. Este poético livro contém  os elementos essenciais do universo, incluindo os céus e a terra, plantas e animais.  Suas páginas são de extremo lirismo, deslumbramento e exaltação ao Criador. Tal qual ocorre em um concerto de orquestra, ao invés de músicos, cada elemento deste livro oferece sua contribuição em prol de um resultado glorioso. O produto final é desvelado através da melhor possível aclamação a D’us por parte dos representantes do reino animal elencados a partir do quarto capítulo.
É sabido que o ser humano pode aprender sobre conduta observando o comportamento dos animais e os atos da natureza. No Livro de Jó, está contido o ensinamento de como devemos  glorificar a D’us observando o procedimento dos pássaros.[8] O Talmud nos ensina que mesmo sem a Torá, aprenderíamos sobre modéstia com os gatos, entre outros exemplos.[9] Neste sentido, o Pirkê Avot  explica através do ensinamento de Yehudá ben Teimá, para sermos ousados como o leopardo, ligeiros como a águia, ágeis como a gazela e fortes como o leão.[10] Impressionante como o livro de Provérbios mostra ao preguiçoso para observar a formiga e com ela adquirir sabedoria. Este animal embora sem patrão, supervisor ou soberano, provê seu pão no verão e estoca alimento durante a colheita![11]
O Rebbe de Lubavitch explica que às vezes é mais fácil para o ser humano aprender determinadas condutas com os animais. O homem é cheio de paradoxos e conflitos internos, enquanto  os animais normalmente têm características fortes e claras, sem espaço para sutilezas humanas.
Prosseguindo, fascinante observar na leitura do Perek Shirá como os animais reconhecem o poder criador de D’us e são agradecidos em seus louvores! Se os animais tanto glorificam a D’us, que dirá como a humanidade deveria louvá-Lo... Através de cada animal e de sua respectiva canção, extraímos lições edificantes para encontrar alegria e combater a depressão.
É extraordinário perceber que dentre todos os elementos da Terra que glorificam seu Criador Único,  encontam-se os animais listados no Livro exatamente em número de 52, um para cada semana do ano!
Este livro pode ser lido de uma só vez do início ao fim, mas seu propósito é de que seja vivenciando diariamente. O objetivo é fazer com que o indivíduo se conecte com a energia espiritual da semana através de três prismas: Perek Shirá, Pirkê Avot e contagem do ômer.  Além disso, indicaremos festividades e datas importantes do calendário, explicando o significado de cada mês.
Para poder cumprir a jornada, o leitor precisará ter humildade e mente aberta, além de outro ingrediente básico imprescindível: fé em D’us. Está escrito no Midrash que o mar se abriu e os judeus só puderam prosseguir depois que Nachshon Ben Aminadav se jogou ao mar. Com o propósito de recordar o episódio, sabemos que o Povo Judeu estava completamente emboscado antes da abertura do mar. Qual a saída? Na frente, águas profundas e, atrás, o impiedoso exército egípcio. Por tudo isto, o povo estava hesitante e incrédulo, apesar dos inúmeros milagres divinos que culminaram com sua libertação do Egito. Sem titubear, acreditando em um desenlace favorável, Nachshon se lançou ao mar. Quando as águas estavam já entrando em suas narinas, o Mar Vermelho se abriu e todos o seguiram. O Midrash explica que D’us queria que Seu povo agisse baseado em fé.
Portanto, a partir do exemplo de Nachshon aprende-se que basta ter certeza e acreditar com fervor no Criador. Os obstáculos foram removidos pois existiu determinação por parte de Nachshon de realizar um desígnio divino. Afinal, nada é impossível ou sequer difícil para o Eterno que tirou Seu povo da terra do Egito.[12] Isto mesmo, D’us tirou Seu querido povo da escravidão: Ele não enviou anjos nem emissários para esta missão, realizada com Sua mão poderosa e braço estendido.[13] Por isto, além de celebrar anualmente a festividade de Pessach, diariamente nas rezas matutinas, o Povo de Israel lembra de sua libertação da escravatura, ocorrida há milênios atrás.
Em conclusão, imbuído de pode o indivíduo trilhar firme esta proposta para uma bela jornada espiritual. E é movida pela fé, verdade e esperança que as ferramentas na busca de entendimento da sabedoria judaica se seguem apresentadas nas próximas páginas deste livro.





[1] Orot Ha-Kodesh II, p. 444
[2] Tanya, introdução; Deuteronômio 30:11
[3] Cap. 45:18
[4] Hayom Yom, 2 de Cheshvan,  p. 101
[5] Êxodo 19:2, Rashi
[6] Êxodo 15:26
[7] Marcus, p. 12
[8] Cap. 35:11
[9] Eruvim 100b
[10] Cap. 5:23
[11] Cap. 6:6
[12] Êxodo 20:2 e Salmo 78
[13] Deuteronômio 4:34

Saturday, December 26, 2009

As Sefirot


As Sefirot
“E D’us disse: Façamos o homem com nossa imagem e semelhança” (Gênesis 1:26)

Está escrito no Livro Gênesis que D’us criou o ser humano em Sua imagem. De acordo com Maimônides, a humanidade é semelhante a D’us, pois recebeu qualidades divinas, a saber;  moral, raciocínio e a capacidade de livre escolha. A este respeito, o ser humano se assemelha a D’us espiritualmente e não no aspecto ou configuração material. Maimônides explica que temos que tentar emular a D’us, copiando Seus atributos. Assim como D’us é misericordioso, devemos ser misericordiosos. Da mesma maneira, assim como D’us é sagrado, igualmente devemos ser sagrados.[1]

Isto posto, através do estudo da cabalá, aprendemos a emular a D’us através de Suas qualidades manifestadas nas sefirot. Neste sentido, a terminologia sefirá pode ser traduzida como emanação, característica, qualidade ou faculdade divina. Cada ser humano tem dentro de si uma reflexão destas sefirot. Ao trabalhar e aperfeiçoar nossas próprias sefirot (também chamadas de midot), podemos melhor emular e nos relacionar com o Criador. Portanto, esta é uma das razões pelas quais é tão importante conhecer o significado cabalístico das sefirot.
Uma maneira de compreender o significado das sefirot é através do entendimento do que são os “Sete Pastores” que visitam o Povo Judeu durante a festividade de Sucot. O Zohar explica que estes homens justos são “recebidos” espiritualmente na Sucá anualmente. A propósito, esta é uma das experiências mais especiais de Sucot.
O Povo de Israel tem três patriarcas: Abrahão, Isaac e Jacob. Na primeira noite de Sucot quem honrosamente visita na Sucá o Povo Judeu é Abrahão. Nosso pai e patriarca tem como característica preponderante, entre outras, a bondade, fazer bem ao próximo, ou seja, chesed. Consta na obra cabalística Sefer HaBahir que a sefirá inclusive "reclamou" com D’us de sua falta de função durante a vida de nosso patriarca![2] Abrahão era extremamente hospitaleiro, sempre recebendo hóspedes em sua casa de forma excepcional – inclusive pessoas completamente idólatras. Outrossim, Abrahão foi à guerra para salvar seu sobrinho Lot, mesmo ciente de seus defeitos, o que demonstra como nosso patriarca tinha exacerbada a sefirá de chesed.
Por sua vez, a sefirá guevurá representa força, disciplina, controle e sacrifício pessoal. Quem visita a Sucá na segunda noite é o segundo patriarca, Isaac. O Pirkê Avot diz  que forte, com guevurá, é aquele que domina sua tendência física. Esta sefirá está conectada com Isaac, que se controlou o suficiente para permitir que Abrahão o levasse a sacrifício. Guevurá representa a capacidade de se refrear e não dar ou ceder quando a pessoa não tem merecimento. Um exemplo disto ocorreu quando Isaac não deu bençãos extras a seu filho Esaú.
Seguindo esta cronologia, é fácil advinhar quem vem para jantar na Sucá na terceira noite: Jacob. Nosso patricarca pode ser visualizado pela sefirá tiferet, resultante do equilíbrio entre chesed e guevurá. Jacob, que depois teve seu nome mudado para Israel, representa harmonia. Apesar de começar sua vida mais ligado a chesed (sendo o preferido de sua mãe, a matriarca Rebeca, ela mesma representativa da sefirá chesed), Jacob encarou extremos desafios com tremenda coragem e disciplina.,Trabalhou para Labão, enfrentou um anjo e Esaú. A sefirá de tiferet é também conhecida como rachamim, misericórdia.
Após a presença dos três patriarcas, na quarta noite de Sucot, o Povo de Israel recebe em sua Sucá um novo convidado: Moisés. Este grande líder espiritual tem por maiores características a humildade, perseverança, redenção e vitória, atributos simbolizados pela sefirá netzach. Através de Moisés, o homem mais humilde da Terra, D’us redimiu o Povo Judeu do Egito e entregou a Torá.
Durante a quinta noite de Sucot, Aarão, o irmão de Moisés, visita a Sucá. Nesta noite a sefirá hod é o elemento divino refletido no indivíduo. Hod pode ser entendida por gratidão, reconhecimento, glória, mas também por serviço devoto e nulificação. Aarão, o primeiro Sumo Sacerdote, servia e glorificava a D’us com gratidão e com todo o seu ser, se nulificando totalmente diante de D’us. Aarão também servia o Povo de Israel, sempre buscando harmonia e paz àqueles ao seu redor.
Prosseguindo, na sexta noite recebe-se José na Sucá, ele que está ligado a sefirá yesod, que significa fundação, firmeza e retidão. José manteve-se firme perante a sedução da mulher de Potifar, mantendo sua base judaica, mesmo após muitos anos sozinho e isolado no Egito. Cabe ressaltar que de todos os Sete Pastores, José é conhecido como HaTzadik, o Justo. O tzadik representa a fundação do mundo, a fonte de sua sustentação espiritual e material, como foi José.
Finalmente, na última noite da festividade de Sucot, o Povo Judeu recebe na Sucá a visita do Rei David, ligado preponderantemente a sefirá malchut. Esta sefirá pode ser traduzida por reinado, pois representa a capacidade de ação no mundo material. Malchut engloba as qualidades de todas as outras sefirot e as coloca em prática. O Rei David representa bem esta sefirá, pois seu reinado, e o de seu filho Salomão, são o maior exemplo da manifestação do reino de D’us neste mundo. O Rei David instituiu a leitura de seus Salmos e nos ensinou do poder ligado ao ato de teshuvá (arrependimento e retorno a D’us). Ademais, malchut é a única sefirá emocional tida como feminina. Além do Rei David, malchut muitas vezes é simbolizada pela matriarca Rachel.
Durante a contagem do ômer, as três sefirot que refletem a capacidade da mente, chochmá, biná e da'at (ou keter), a saber, sabedoria, conhecimento e compreensão,  não são trabalhadas. Isto porque no dia de Pessach, D’us já presenteou o Povo de Israel com estes atributos. Então, já dotado destas qualidades, o indivíduo passa a trabalhar seu lado emocional. Depois de terminado esse trabalho, como recompensa, em Shavuot, recebemos um nivel ainda mais elevado das sefirot intelectuais.





[1] Maimônides, Mishna Torá, Hilchot De’ot, Cap. 1:6
[2] Hayom Yom, 22 de Cheshvan, p. 106

Sunday, December 20, 2009

Semana 1: Levantar a Cabeça, Escolher um Mestre e Reconhecer a Unicidade de D’us


Semana 1: Levantar a Cabeça, Escolher um Mestre e Reconhecer a Unicidade de D’us

O mês de Tishrei, representado pela tribo de Efraim, é praticamente todo dedicado à espiritualidade – repleto de festas judaicas cobertas de alegria, do começo ao fim. Efraim, filho de José, passou a vida estudando Torá com seu avô, Jacob, e teve uma vida profundamente espiritual.
Na primeira semana do calendário judaico, a festividade celebrada que marca o começo do ano é Rosh Hashaná, cabeça do ano. Nesta semana, o primeiro animal do Perek Shirá é o galo que canta um verso introdutório, seguido  exatamente de outros sete cantos,, um  para cada dia da semana. Paralelamente, em Rosh Hashaná, o Povo Judeu escuta o canto de despertar espiritual do toque do shofar. Existe um paralelo entre os oito cantos do galo e as oito vezes em que se toca o shofar em Rosh Hashaná. O shofar é tocado 100 vezes, tal qual os cantos do galo, que tem 100 palavras.
O galo, animal majestoso que encabeça a listagem dos animais no Perek Shirá, representa a idéia do reinado de D’us. É exatamente em Rosh Hashaná que o Povo de Israel reconhece D’us como Rei.
            No Pirkê Avot, os quatorze primeiros autores dos ditos do Capítulo I repetem a idéia de obter e seguir a orientação de um único mestre. Para crescermos espiritualmente, é importante a escolha de um guia que nos conheça, para dar orientação e responder perguntas e que seja objetivo sobre o que é necessário para obtermos  autoaperfeiçoamento.
Esses versos contém uma introdução seguida de sete pares de rabinos, paralelos ao canto do galo, que contêm uma introdução e sete versos. Estas lições estão todas conectadas a Rosh Hashaná.
A primeira semana do ano está associada a combinação de sefirot que resulta em chesed shebechesed. Chesed significa bondade, e em Rosh Hashaná sentimos que D’us atende abundantemente aos pedidos e súplicas de Seus filhos. O Ba’al Shem Tov explica que o toque do shofar é como o grito de um príncipe que passou anos fora de casa e esqueceu sua própria língua materna. Ao ver à distância seu pai, o Rei, grita por reconhecimento.
O galo também nos ensina uma importante lição. No seu cântico do Perek Shirá, ele aconselha o indivíduo a não continuar dormindo, levantar a cabeça e seguir em frente. E levantar da cama não é o primeiro conselho que se pode dar a uma pessoa que está melancólica ou deprimida?[1] O ato de levantar é um grande milagre e o primeiro passo para enfrentarmos com fé as alegrias, como também as vicissitudes de um novo dia.


[1] Este ensinamento não tem a pretensão nem a ousadia de substituir um medicamento prescrito a uma pessoa clinicamente deprimida. O objetivo dessa lição é o de apontar como o ser humano pode se inspirar na conduta do galo, que levanta cedo para um novo dia, sem auxílio de qualquer eletrônico.

Sunday, December 13, 2009

Semana 2: Relacionar-se Bem com as Pessoas e com o Próprio Corpo


Semana 2: Relacionar-se Bem com as Pessoas e com o Próprio Corpo

Na segunda semana do ano judaico, de Yom Kippur[1] (Dia do Perdão), é a vez da galinha cantar no Perek Shirá sobre a bondade eterna de D’us, que dá o pão, isto é, o alimento para todos (Salmo 136:25). Poucos talvez saibam, mas a refeição da véspera de Yom Kippur é considerada tão importante quanto o próprio jejum!
Vejamos que coincidência surpreendente: justo na segunda semana, às vésperas de Yom Kippur, o Povo Judeu faz kapparot, costume simbólico de expiar os pecados através de uma galinha! Cada galinha abatida é oferecida a famílias carentes. Hoje em dia, ao invés da galinha, muitos fazem uma contribuição financeira, utilizando o dinheiro doado para cumprir este ritual. Antes de Yom Kippur também temos o o costume de pedirmos desculpas uns aos outros.
O Pirkê Avot ligado a esta semana exprime a recomendação de Shimon, filho de Raban Gamliel: “Toda minha vida cresci entre os Sábios, e não encontrei nada melhor para a pessoa [literalmente, o corpo] que o silêncio; não é o estudo, e sim a prática que é o principal; e quem conversa em excesso traz o pecado” (Cap. I:17). Para que possamos absorver as palavras dos sábios, antes de mais nada temos que ficar em silêncio. Em Yom Kippur, ao jejuar, silenciamos os desejos do corpo.
Como afirmamos na primeira semana, o Pirkê Avot aconselha ao indivíduo decidir-se por um único rabino mestre. Contudo, isto não significa que uma pessoa não possa aprender de vários sábios da Torá, assim como de todas as outras pessoas.[2]
Nesta segunda semana predomina a combinação de sefirot guevurá shebechesed. Guevurá significa força, controle, justiça e disciplina. Em Yom Kippur o Povo de Israel, com disciplina e força de vontade exerce o auto-controle através do jejum. Sabendo que D’us é justo e bondoso, o povo suplica ao Criador por clemência e proteção.
A lição de auto-aprimoramento que extraimos do Perek Shirá desta semana é a de que até a galinha reconhece que D’us alimenta todos os seres vivos. Depois de levantar da cama, como o galo dá o exemplo na primeira semana, a segunda lição para combater a depressão é cuidar de si, o que inclue comer adequadamente e fazer exercícios.


[1] A véspera de Yom Kippur sempre ocorre na segunda semana do ano. No entanto, o dia de Yom Kippur às vezes acontece no primeiro dia da terceira semana, como no ano 5773. Esta é a única exceção existente de todas as datas descritas em cada semana deste livro.
[2] Cap. IV:1

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